Viagem à Bolívia e Uyuni. 5º Dia: Rumo ao Altiplano Boliviano, Laguna Canapa e Laguna Hedionda.

O 5ª dia de viagem foi um grande desafio. Parti para o Sul da Bolívia, em direção à Reserva Nacional Eduardo Avaroa. É nesta Reserva que estão as famosas e belíssimas Laguna Colorada e Laguna Verde, dois dos lugares mais procurados pelos turistas na Bolívia. Também nesta reserva estão outros lugares interessantes como os Geisers Sol de La Mañana, Deserto de Siloli, Arbol de Piedra e várias outras lagunas, vulcões, etc.

Montanha Multicolorida, Próxima a Laguna Canapa, Bolívia

A Reserva Eduardo Avaroa é uma região inóspita e inabitada no Sul da Bolívia, com altitude média de 4.000 metros e com noites muito geladas, onde as temperaturas podem ser negativas mesmo no verão.

Outro desafio, em grande parte do caminho não existem estradas demarcadas somente rastros e marcas de pneu.  Assim é necessário estudo e preparação, com a elaboração de mapas e uso de bons aparelhos de GPS. O trecho que percorremos neste dia está destacado (linha preta) no mapa abaixo:

Roteiro de Nossa Viagem à Bolívia. Mapa Ilustrativo.

Como mostra o mapa acima, eu saí do Hotel Palácio de Sal em Colchani rumo ao Sul. A primeira parada foi em Uyuni. Eu tinha que comprar um pneu para o estepe, trocar dólares, comprar gasolina, comprar algo para almoçar/lanchar mais tarde. Isso parece tarefa simples, mas demorei quase 2 horas para fazer isso tudo. Principalmente para abastecer devido as imensas filas nos postos de gasolina da cidade.

É importante levar alimentos e água nestas aventuras porque as estradas da Bolívia não tem uma estrutura de auxílio ao viajante como existe no Brasil. No Brasil temos postos de combustível, restaurantes, banheiros, etc.  Lá não tem posto na estrada e esqueça banheiro...é tudo feito no mato mesmo, isso quando tem uma moita decente na vegetação rasteira do deserto ou, na melhor das hipóteses, alguma casinha em ruínas ou abandonada...

Ruinas que serviram de banheiro no sul da Bolívia. Se achar uma ruína dessas aproveite! É o melhor banheiro no caminho.

Saí de Uyuni seguindo a Ruta 5 e depois da Ruta 701 em direção à Alota, San Cristóbal e Culpina K (porque o “K” no nome eu não sei... eu só sei que existe outra cidade Culpina “sem K” na Bolívia, e isso num GPS pode fazer uma confusão danada).

Estrada entre Uyuni - San Cristóbal - Culpina K - Alota. Estrada de Terra em bom estado.

Essa estrada, no geral, está em bom estado e é possível manter a velocidade na casa dos 80km/h. Passei por belas paisagens com criações de llamas e plantações de Quinoa. 



Plantação de Quinoa, Uyuni, Bolívia



Quinoa e Llamas. Uyuni. Bolívia.

Andei mais 85 km até chegar em San Cristóbal, uma cidade com alguma estrutura, com comércio, hospedarias e um Posto de Combustível (aproveitei para encher o tanque novamente), também procurei algum lugar para almoçar mas preferi comprar biscoitos e sucos industrializados e seguir viagem.

Igreja em San Cristóbal, Potosi, Bolívia.

Bela Paisagem próxima a San Cristóbal, Uyuni, Bolívia.

Continuei mais 15km e passei por Culpina K. Alota estava 40Km à frente. Alota parece uma cidade perdida no meio do deserto. Passei sem parar nestas cidades. Pelo que me informei não existe nenhum atrativo turístico ou posto de combustível. Estas cidades tem hospedarias simples e um pequeno comércio que podem ajudar em momentos de sufoco.

Alota seria o último traço de civilização que eu veria... Agora seriam cerca de 100Km até chegar ao Hotel Tayka Del Desierto, que fica, literalmente,  "en el Desierto", a cerca de 4.500 metros de altitude.

Estrada 701 após Alota. Já é possível avistar os grandes vulcões andinos. Uyuni, Bolívia

Ruta 701, Bela Paisagem Perdida no Tempo, Sul da Bolívia

Continuei pela 701, que ainda tinha bom estado de conservação. Logo após Alota passei pelo Vale de Rocas, um lugar com formações rochosas super interessantes (GPS -21.392264,-67.703097).

Ruta 701, Vale das Rocas, Paisagem Lunar, Sul da Bolívia.



Ruta 701, Casinha perdida no tempo, ao fundo o imponente Vulcão Olague e o Cerro Cañapa. Bolívia

Mais à frente, seguindo em direção Oeste pela 701 fiz uma mudança (já programada) de rota em direção ao Sul ( no ponto GPS -21.392264,-67.703097). Neste ponto se iniciou uma estradinha sinuosa e em péssimo estado. Com muitas rochas e erosões sendo transitável apenas com 4x4 acionado. O Suzukinho Jimny, que não é muito alto em relação ao solo, penou para passar em alguns trechos... Principalmente este trecho inicial em péssimo me deixou até preocupado, será que eu tinha errado o caminho? O GPS e os mapas que eu coloquei nele indicavam que o caminho estava certo.

Trilha de Pedregulhos, Sul da Bolívia, Perto da Laguna Canapa, Bolívia

Este trecho ruim se estendeu por certa de 14 Km até a Laguna Canapa. A Laguna Canapa é lindíssima. Rodeada por montanhas e vulcões. Pena que os cumes não tinham neve... Alguns algumas dezenas de flamingos andinos se alimentando na laguna.

Laguna Canapa, Potosi, Bolívia

Laguna Canapa, Potosi, Bolívia

Também avistei, bem perto, dois vicunhas jovens, bem mansinhos e tranquilos nas margens da Laguna. Eu achei estranho porque estavam sem a mãe. Quando me viram eles se abaixaram para tentar se esconder, ingênuos, pois ainda estavam perfeitamente visíveis. Uma reação comum em filhotes no mundo selvagem.

Vicuñas na Laguna Canapa

A partir deste ponto o caminho melhorou se tornando mais plano e menos acidentado. Por outro lado já não existia uma rota única. A rota inicial se subdividia toda hora em muitos caminhos e trilhas de pneus que seguiam quase paralelas, além disso, a todo momento surgiam bifurcações. Se não fosse o GPS seria fácil se perder por ali. 

 

Escolha o caminho e boa sorte! Bolívia.



Saída pela esquerda? Saída pela Direita? Cadê a Placa? Bolívia.

Mais a frente cheguei a Laguna Hedionda, também belíssima, maior que a Canapa e com mais flamingos. Existe um hotel nas suas margens. Me pareceu um lugar interessante para passar uma noite. Foi lá que fiz um pic-nic a mais de 4.000 metros. Aquele lugar parecia completamente isolado de tudo e ficar ali admirando aquela paisagem já valeu a viagem.

Em seguida passei por duas lagunas menores Honda e Chiar Kkota e agora estava literalmente no meio do deserto e cercados pelas montanhas dos Andes. O terreno de areia + pedriscos era traiçoeiro. Andei o tempo todo com o 4x4 ativado.

Laguna Honda

Laguna Chiar Khota.

Cerca de 25Km depois começou a surgir um pontinho no meio do nada. Repare bem na foto abaixo que você verá um "tracinho" bem no meio. Este era o destino, o Hotel Tayka Del Desierto que fica na coordenadas GPS -21.844292,-68.04009.

 

Onde está o hotel no meio do nada? Bolívia.

Este Hotel é um oásis no meio do deserto. Quartos amplos, limpos, rústicos mas confortáveis, banho quente, boa comida (eles oferecem café da manhã e jantar). Isso tudo em um lugar completamente isolado e independente, a energia é de gerador que é desligado as 22hs, o aquecimento dos quartos é a gás (também desligado as 22hs) e água do banho é aquecida por energia solar. As paredes grossas garantem um bom isolamento térmico e a noite eu senti até calor, porque estava usando os pesados cobertores do hotel.

Neste dia foi tudo espetacular, mas muito cansativo. No final do dia, relembrei de tudo e pareceu que foi um final de semana inteiro. Jantei e dormi cedo. Continuem acompanhando, curtam e qualquer dúvida é só postar. Abraços!!

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